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Ano 2 • n. 4 • jul/dez. • 2012
ClovisGorczevski
son o parecen incompatibles
39
e, como bem lembra Moore
40
, todas
as sociedades, comunidades, organizações, e relacionamentos
interpessoais experimentam conflitos em um ou outro momento
no processo diário de interação. Desde a formação das primeiras
hordas, o homem tem sido protagonista e vítima de conflitos com seus
semelhantes, basta lembrar Caim e na solução dramática que deu
a seu conflito com o próprio irmão. Portanto, a única regra comum e
inflexível em todas as sociedades humanas é que nenhuma, jamais,
está sem tensões e conflitos.
Sem essas tensões e conflitos entre os diversos grupos que a
compõem, a sociedade humana seria como um formigueiro, e já disse
Hobbes, o homem não é social como as abelhas ou as formigas
41
.
Ademais, são os conflitos os agentes causadores das transformações
sociais. Muitas vezes importantes acontecimentos em uma sociedade
surgem de uma saudável e produtiva negociação de seus conflitos:
de los conflictos pueden salir ideas, soluciones y respuestas que
39
“La Justicia de la Gente”,
Cartilha editada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Rede de Solidariedade
Social da Presidência da República da Colômbia, Bogotá, s/d, p. 3.
40 MOORE, Christopher.W.
The mediation process –
practical strategies for resolving conflict. San Francisco:Jossey-Bass Inc. 1996.
p. 7
41 “É certo que há algumas criaturas vivas, como as abelhas e as formigas, que vivem sociavelmente umas com as outras (e por isso
são contadas porAristóteles entre as criaturas políticas), sem outra direção senão seus juízos e apetites particulares, nem linguagem
através da qual possam indicar umas às outras o que consideram adequado para o beneficio comum. Assim, talvez haja alguém
interessado em saber por que a humanidade não pode fazer o mesmo. Ao que tenho a responder o seguinte. Primeiro, que os
homens estão constantemente envolvidos numa competição pela honra e pela dignidade, o que não ocorre no caso dessas criaturas.
E é devido a isso que surgem entre os homens a inveja e o ódio, e finalmente a guerra, ao passo que entre aquelas criaturas tal não
acontece. Segundo, que entre essas criaturas não há diferença entre o bem comum e o bem individual e, dado que por natureza
tendem para o bem individual, acabam por promover o bem comum. Mas o homem só encontra felicidade na comparação com os
outros homens, e só pode tirar prazer do que é eminente. Terceiro, que, como essas criaturas não possuem (ao contrário do homem)
o uso da razão, elas não vêem nem julgam ver qualquer erro na administração de sua existência comum. Ao passo que entre os
homens são em grande número os que se julgam mais sábios, e mais capacitados que os outros para o exercício do poder público.
E esses esforçam-se por empreender reformas e inovações, uns de uma maneira e outros doutra, acabando assim por levar o
país à desordem e à guerra civil. Quarto, que essas criaturas, embora sejam capazes de um certo uso da voz, para dar a conhecer
umas às outras seus desejos e outras afecções, apesar disso’ carecem daquela arte das palavras mediante a qual alguns homens
são capazes de apresentar aos outros o que é bom sob a aparência do mal, e o que é mau sob a aparência do bem; ou então
aumentando ou diminuindo a importância visível do bem ou do mal, semeando o descontentamento entre os homens e perturbando
a seu bel-prazer a paz em que os outros vivem. Quinto, as criaturas irracionais são incapazes de distinguir entre injúria e dano, e
consequentemente basta que estejam satisfeitas para nunca se ofenderem com seus semelhantes. Ao passo que o homem é tanto
mais implicativo quanto mais satisfeito se sente, pois é neste caso que tende mais para exibir sua sabedoria e para controlar as
ações dos que governam o Estado. Por último, o acordo vigente entre essas criaturas é natural, ao passo que o dos homens surge
apenas através de um pacto, isto é, artificialmente. Portanto não é de admirar que seja necessária alguma coisa mais, além de um
pacto, para tornar constante e duradouro seu acordo: ou seja, um poder comum que os mantenha em respeito, e que dirija suas
ações no sentido do beneficio comum. HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado Eclesiástico e Civil.
Tradução de João Paulo Monteiro. São Paulo: Nova Cultura, 2000. p. 146-147.
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