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de neurônios motores, sugerindo a morte precoce desse tipo celular. O
trabalho não faz uma caracterização funcional dos neurônios motores
gerados pelo grupo (capacidade de estimular potenciais de ação ou formar
junções neuromusculares). Outra observação feita pelo grupo foi um
aumento do número de agregados proteicos conhecidos como “gemas”,
em fibroblastos e iPSC do paciente AME. Essas gemas estão geralmente
associadas diretamente com a intensidade da doença. Interessante, os
agregados puderam ser revertidas em fibroblastos ou nas iPSC utilizando
drogas específicas. Infelizmente, o grupo não analisou a presença dessas
gemas nas células de interesse, os neurônios motores. Esse trabalhomostra,
pela primeira vez, a prova de princípio de que as iPSC podem ser utilizadas
como uma futura plataforma para triagem de drogas que possam reverter
ou atenuar os fenótipos celulares relacionados com doenças humanas.
Infelizmente, o entusiasmo inicial foi afetado pela ausência de controles
mais rigorosos e da presença de outros pacientes comAME. A incorporação
de mais controles, perda e ganho de função, teriam reduzido as críticas
de que o fenótipo observado seria uma mera consequência intrínseca da
variabilidade do sistema iPSC (tópico discutido em detalhes mais adiante).
DF é também uma doença recessiva com alta incidência em pessoas
descentes da linhagem judia Ashkenzi (Brunt and McKusick, 1970). A
doença é caracterizada pela degeneração de neurônios sensoriais e
autônomos, levando a uma disfunção geral severa e letal. O quadro clínico
inclui hipoatividade, lacrimação, indiferença a dor e temperatura. Um
defeito no processamento de edição do gene IKBKAP resulta na perda de
função da proteína em determinados tecidos (Slaugenhaupt et al., 2001).
IPSC derivadas de três portadores de DF foram diferenciadas em células
neurais progenitoras e revelaram níveis baixos de expressão de IKBKAP
quando comparado ao grupo controle. Defeitos na migração e capacidade
de diferenciação neuronal também foramnotados nas progenitoras neurais
derivadas de DF-iPSC. Uma droga (kinetina) foi usada para recuperar em
parte a edição do RNA de IKBKAP nessas células, revertendo os defeitos
de migração mas não de diferenciação neuronal. Variações químicas da
kinetina poderiam ter sido usadas na tentativa de recuperar ambos os
defeitos. De qualquer forma, esse segundo trabalho apresenta vantagens
sobre o primeiro, principalmente pelo uso de mais de um paciente.