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3. MODELANDO DOENÇAS DO

DESENVOLVIMENTO NEURAL – O

ESPECTRO AUTISTA

Apesar dos avanços de modelagem com iPSC se restringirem, até o

momento, em doenças neurodegenerativas, antecipo que a tecnologia

será útil para doenças do desenvolvimento e psiquiátricas como o Espectro

Autista e a Esquizofrenia. No entanto, acredito que resultados iniciais virão

muito provavelmente de doenças monogenéticas de causa conhecida

e com sintomas precoces. Um exemplo de uma doença humana com

grande potencial de modelagem é a síndrome de Rett. A síndrome de

Rett é caracterizada por um retardo no desenvolvimento natural durante

os primeiros anos de vida, regressão das habilidades manuais, perda do

vocabulário, movimentos estereotipados e um amplo espectro autista

(Samaco et al., 2005). Portadores da síndrome de Rett geralmente carregam

mutações no gene MeCP2, localizado no cromossomo X. A proteína MeCP2

tem um maior afinidade por DNA metilado e parece estar envolvida

na regulação epigenética de genes alvo no sistema nervoso. O fato de

conhecermos o gene envolvido nessa síndrome permitirá a manipulação

genética em neurônios derivados de Rett-iPSC, validando eventuais

fenótipos celulares ou moleculares encontrados após a diferenciação. Essa

importante validação será imprescindível para nos convencer de que os

fenótipos observados não são frutos de variações experimentais.

A síndrome de Rett faz parte das síndromes associadas ao Espectro

Autista e talvez seja o protótipo ideal para começar a investigar doenças

psiquiátricas complexas. Seguindo essemodelo, o próximo passo consistiria

embuscarfenótipossemelhantesemdiversassíndromesdoEspectroAutista,

procurando vias moleculares comuns. Umdesafiomaior para essa categoria

de doenças estaria na distinção da contribuição de fatores do

background

genético e do ambiente. Novas ferramentas para amanipulação do genoma

de células-tronco pluripotentes, como a recombinação homóloga e uso de

zinc-fingers

com endonucleases específicas, pode ajudar na eliminação do

ruído ou variabilidade experimental (Hockemeyer et al., 2009; Zwaka and

Thomson, 2003). Uma outra via para revelar fenótipos neuronais complexos

e comportamentos neurais específicos pode ser através do uso de animais

quiméricos. O transplante de células-tronco embrionárias humanas no

cérebro de embriões murinos revelou o enorme potencial de adaptação das

células pluripotentes em decorrência do contato com nicho celular (Muotri