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habilidades para leitura e uma memória acima da média, ao ponto de
elaborarem mentalmente complexas operações matemáticas e guardarem
integralmente trechos de livros que leem. Alguns, sem nunca terem
estudado, conseguem aprender em questão de minutos conteúdos que
levaríamos dias ou meses para aprender. Observam por alguns momentos
o objeto de estudo e conservam os mínimos detalhes. Suas regras de
raciocínios são impossíveis de serem compreendidas.
Mas nem todos os autistas têm uma mente prodigiosa. A grande
maioria não é assim. Muitos não verbalizam, apresentam estereotipias
e outros comprometimentos. Em comum, eles têm uma difícil realidade
de inclusão social e escolar. Decerto, tão difícil quanto fazê-los aprender
tarefas simples da vida diária é incluí-los nas relações sociais e livrá-los dos
preconceitos e das discriminações que sofrem.
Atualmente a sociedade brasileira vive um momento contrário à
discriminação, considerando a demanda humana por igualdade. A atenção
às diferenças ganhou centralidade nas discussões. O direito, muitas vezes
negado à pessoa com deficiência ou transtornos globais, entra na pauta
iminente das demandas sociais, pela necessidade de preparação dos
espaços escolares e profissionais. São desafios impostos pelas questões que
emergiram da família, da cultura e das minorias no contexto dos direitos do
indivíduo. Tais desafios ajudaram a fomentar, nos últimos anos, relevantes
movimentos na política de inclusão de pessoas com transtorno do espectro
autista.
Porém, há um longo caminho a percorrer, que para chegar a bom
termo, dependerá do cumprimento das conquistas legais alcançadas nos
últimos anos. Dependerá, ainda, da formação humana e cidadã de todos.
Quando falamos de inclusão na escola ou no trabalho, devemos lembrar
que esta requer um compromisso de toda a sociedade.
É preciso consolidar as conquistas alcançadas até aqui. Uma delas,
certamente, é a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, “Lei Berenice
Piana”
12
·, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Trata-se de um avanço na
consolidação de políticas públicas inclusivas, sempreconceitos e distinções.
Um movimento de anos, não poucos. Uma vitória para aqueles que por ela
laboraram, principalmente pais e familiares.
12 Berenice Piana reside em Itaboraí e é mãe de um jovem com autismo, sendo uma das pessoas que mais contribuíram para a
elaboração e aprovação da Lei.