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Palavra doMestre

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ANO 04 • nº 01 • MARÇO de 2015 •

e a valorização do indivíduo no meio

em que vive e no meio pretendido.

Tenciono também levantar aqui uma

discussão sobre o tipo de indivíduo

que queremos como resultado da

educação escolar e acadêmica. Será

que queremos um mero repetidor de

formas e conceitos que já vivemos

e que resultaram em insensibilidade,

competitividade, consumo desenfrea-

do e fracasso social? Ou queremos su-

jeitos capazes de analisar a sociedade,

valorizando a alteridade (respeito às

diferenças), com estímulo interior para

a transformação de modelos falidos de

convivência e desenvolvimento?

A complexidade na sala de aula

A História nos mostra claramente as

consequências da negligência em re-

lação à complexidade das sociedades

encontradas pelos europeus, gerada

pelo etnocentrismo dessa socieda-

de. Iniciar uma discussão a partir de

tal análise pode ser considerado um

exagero, haja vista que vamos fazer

considerações sobre a sala de aula.

Mas esquecemos que virar as costas

à complexidade de um grupo, comu-

nidade, sociedade, não respeitando

as divergências e diferenças, gerou

em nossa história um corporativismo

prejudicial, que o mundo chamou de

fascismo, gerador de preconceito e

xenofobia.

Embora muito se tenha conseguido

em termos de melhor preparo de ges-

tores e professores em relação à pe-

dagogia e à andragogia, as ações prá-

ticas nas escolas ainda nos remetem

a tempos em que a disciplina signifi-

cava um comportamento silencioso

para a “absorção” do conhecimento.

É importante que as questões sobre

o aluno, principalmente o acadêmico,

como indivíduo social, com uma carga

de experiência que deve ser analisada,

sejam cada vez mais discutidas.

Muitos professores rejeitam a divisão

em classes na sociedade, mas trata-se

de uma realidade do mundo capitalis-

ta em que vivemos e que impulsiona o

desejo de mobilidade social, fazendo

da escola ou da academia um tram-

polim para alguns alunos, os quais, em

muitos casos, escolhem o seu curso

de acordo com o poder aquisitivo que

ele proporciona.

Acreditamos que a valorização do alu-

no como indivíduo social possa aju-

dá-lo a descobrir-se como um pro-

fissional realmente útil para o bem de

sua comunidade e de sua sociedade. É

comum encontrarmos na sala de aula

uma diversidade de comportamen-

tos; a não valorização da contribuição

mútua entre essas pessoas pode gerar,

por nós, professores, um modelo a ser

seguido, e aqueles que não se encai-

xarem podem ver-se à margem dessa

microssociedade, que é a sala de aula,

e abandoná-la.

De acordo com o artigo

Docência no

Ensino Superior

do professor Dr. Mar-

cos Masetto, “A aprendizagem na área

afetivo-emocional está relacionada

ao aspecto do contínuo e crescen-

te conhecimento que o aluno deverá

adquirir de si mesmo, dos diferentes

recursos que possui”. Masetto faz uma

análise sobre a importância do aspecto

cognitivo e emocional do aluno. A sub-

jetividade do indivíduo é tão complexa,

que omundo capitalista resolveu igno-

rá-la, mas notamos a importância des-

sa subjetividade quando observamos

que o homem constrói sua persona-

lidade e seus valores de acordo com

sua cultura, que ele é um sujeito ativo

da história de sua comunidade e de

sua sociedade, que os acontecimentos

a elas relacionados influenciam o seu

desenvolvimento e que só ele conhe-

ce os detalhes das necessidades do

meio emque vive, pois as sente na pele

e isso reflete no seu emocional. Como

ajudá-lo a tornar-se um destaque na

transformação de sua sociedade se as

informações que ele traz não são con-

sideradas na sala de aula?

Quando o indivíduo tem a capacidade

de relacionar o que ele aprende com

as necessidades reais de sua aplicação,

temos um profissional atuante, autô-

nomo e transformador, não somen-

te repetidor de conceitos e verdades

preestabelecidas e que muitas vezes

foram “construídas” para atender aos

interesses políticos de sua época.

Diversidadeculturalnasaladeaula

A antropóloga americana Ruth Bene-

dict, em seu livro

O crisântemo e a Es-

pada

, diz que “A cultura é como uma

lente através da qual o homem vê o

mundo”. Cada comunidade desenvol-

ve sua cultura e seus códigos de convi-

vência. Mesmo que regras civilizatórias

nos unam por conta de nossa cultura

ocidental, existem ramificações sociais

culturais e políticas que diferem uma

comunidade da outra. Quantas lentes

diferentes deverão ter em uma sala de

aula? Será que conseguimos alcançar

os nossos alunos sem ter ao menos a

ideia da diversidade cultural entre eles?

As ramificações culturais não param

por aí; a menor célula social, que é a

família, também tem suas culturas par-

ticulares: o que é certo em uma pode

nãoser consideradoemoutra. Estamos

lidando com pessoas para educá-las e

prepará-las para a sociedade, como

não levar em conta os valores que ela

traz de casa? Muitas vezes o precon-

ceito e a falta de tolerância começam

com indivíduos que exigem dos outros

o mesmo comportamento, educação

e crenças que receberam em casa,

quando devemos ser um colaborador

no fortalecimento da visão de mundo

positiva do aluno, ajudando-o a rom-

per somente com os paradigmas re-

almente nocivos. Acredite, todos têm

algo de bom a ser desenvolvido, temos

somente de enxergar.

A convivência entre culturas e códigos

sociais diferentes só é possível com o

respeito pela cultura e comportamen-

to do outro. É muito comum vermos o

preconceito separando e prejudicando

a convivência entre nossos alunos. Ge-

ralmente, esses preconceitos são de

ordem social, cultural ou política.

Vemos entre nossos alunos de ensino