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Língua Portuguesa
Gêneros e o cotidiano jornalístico
gentes, de outros povoados. E logo começaram
as romarias.
Vinha gente de longe pedir! Chegava povo
de tudo quanto é canto e ficava ali plantado,
junto à janela, aguardando a luz da vela.
Outros padres, coronéis, até deputados, para
oficializar o milagre. E quando eram mais
ou menos seis da tarde, hora que o bondoso
sacerdote costumava acender sua vela ... a vela
se acendia e começavam as orações. Ricos e
pobres, homens e mulheres, civis e militares
caíam de joelhos, pedindo.
Com o passar do tempo, a coisa arrefeceu.
Muitos foram os casos de doenças curadas,
de heranças conseguidas, de triunfos os mais
diversos. Mas, como tudo passa, depois de
alguns anos passaram também as romarias. Foi
diminuindo a fama do milagre e ficou, apenas,
mais folclore na lembrança do povo.
O lugarejo não mudou nada. Continua
igualzinho como era, e ainda existe, atrás da
venda, o quarto que fora do padre.
Passamos outro dia por lá. Entramos na
venda e pedimos ao português, seu dono, que
vive há muitos anos atrás do balcão, a roubar
no peso, que nos servisse uma cerveja. O
português, então, berrou para um pretinho, que
arrumava latas de goiabada numa prateleira:
— Ó Milagre, sirva uma cerveja ao freguês!
Achamos o nome engraçado. Qual o
padrinho que pusera o nome de Milagre
naquele afilhado? E o português explicou que
não, que o nome dele era Sebastião. Milagre
era o apelido.
— E por quê? — perguntamos.
— Porque era ele quem acendia a vela, no
quarto do padre.
PONTE PRETA, Stanislaw.
O melhor de
Stanislaw Ponte Preta
. R.J.: J. Olympio, 1988.
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(UFMT)
Sobre os sentidos do texto, escreva
V
para as afirmativas verdadeiras e
F
para as
falsas.
( ) O povo da cidade foi levado a crer no
milagre pela necessidade de minimizar sua vida
de sofrimento.
( ) A visita de autoridades ao quarto do padre
serviu de aval para imprimir caráter de verdade
ao milagre.
( ) A preservação do quarto do padre ensejou
a mistificação da cura da criança doente.
( ) O fato de a cidade ser pequena, seus
moradores serem pobres, tornou o ambiente
inverossímil para a crença no milagre.
Assinale a sequência
correta
.
a) V – V – F – F
b) V – F – V – F
c) V – V – V – F
d) F – V – V – F
e) F – F – V – V
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(UFMT)
Qual palavra ou expressão do texto
explicita a desconfiança do narrador em relação
ao milagre?
a) – conta-se –
b) ou melhor
c) repetiram todos
d) milagre ficou sendo
e) E foi quando um dia
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(UFMT)
No trecho “–
Milagre!!! – quiseram
todos
”, o autor poderia ter usado a forma verbal
falaram, ou gritaram. O verbo
querer
foi usado
para
a) indicar ao leitor a não participação do
narrador na constatação do milagre.
b) sugerir que a
ideia do milagre
relaciona-se às necessidades das pessoas
carentes de esperança.
c) enfatizar que o milagre teve aceitação
por parte da população da pequena cidade,
inclusive do narrador.
d) explicitar que a população interiorana
deixa-se facilmente enganar por desconhecidos.
e) explicar que a mãe da criança doente era
considerada merecedora do milagre.
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(UFMT)
Assinale o trecho que representa a
disseminação da ocorrência do milagre.
a) Muitos foram os casos de doenças curadas,
de heranças conseguidas, de triunfos os mais
diversos.
b) E quando erammais ou menos seis da tarde,
hora em que o bondoso sacerdote costumava
acender sua vela... a vela se acendia e
começavam as orações.
c) E milagre ficou sendo, porque uma senhora
que tinha o filho doente logo se ajoelhou do
lado de fora do quarto, junto à janela, e pediu
pela criança.
d) O quarto do vigário ficou sendo uma
espécie de monumento à sua memória, já que
a Prefeitura não tinha verba para erguer sua
estátua.
e) E o grito de “Milagre!!!” reboou sobre montes
e rios, vales e florestas, indo soar no ouvido de
outras gentes, de outros povoados.
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(UFMT)
A narrativa de Stanislaw Ponte Preta
está construída em dois momentos distintos.
Sobre esses momentos, assinale a
afirmativa
correta
.
a) A vida do padre, sua morte e a ocorrência do
dito milagre são fatos vivenciados pelo narrador
e relatados no segundo momento.
b) O trecho “E logo começaram as romarias.”
marca a passagem do primeiro para o segundo
tempo da narrativa.