Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009

O economista está no Rio de Janeiro, onde participou nesta quarta-feira, no Ibmec-RJ, de um seminário em homenagem aos 55 anos do economista Ricardo Paes de Barros, considerado hoje um dos principais especialistas em políticas sociais do Brasil. Na quarta e na quinta-feira, Heckman é a principal estrela de um seminário na Fundação Getulio Vargas, onde pesquisadores estrangeiros e brasileiros vão discutir a educação infantil.

O professor da Universidade de Chicago lembrou na palestra que uma intervenção educacional apropriada na chamada primeira infância (até os quatro anos) garante significativo retorno econômico a um País  seja rico, pobre ou em desenvolvimento. Para o economista, países como o Brasil só conseguirão realmente alcançar altos índices de produtividade quando mirarem nos anos iniciais. O retorno manifesta-se, por exemplo, no aumento da renda futura, na redução dos custos sociais e na queda da criminalidade, entre outros indicadores. Razão: crianças estimuladas mais cedo chegarão à escola mais preparadas para aprender.

Envolvimento da família

Para comprovar a tese, o Nobel apresentou, ao lado do economista Rodrigo Pinto (também da Universidade de Chicago), os resultados de um estudo sobre o Projeto Pré-Escolar Perry, adotado nos Estados Unidos nos anos 60. O programa tinha como alvo crianças de baixa renda, avaliadas como de alto risco de fracasso escolar. Beneficiários do programa e um grupo de controle foram acompanhados em várias etapas até os 40 anos.

Os resultados mostraram os méritos da intervenção educacional precoce. Para as que estudaram no programa Perry, o número de crianças que quando adultas tiveram renda superior a US$ 2 mil mensais foi quatro vezes maior do que aquelas fora do programa. O Perry também reduziu à metade o número de crianças que usou o seguro desemprego (medida usada para verificar o grau de empregabilidade dessas crianças quando adultas). Para os meninos, o efeito mais importante foi a redução da participação em atividades ligadas ao crime. Houve aumento de QI aos cinco anos de idade e graus mais altos de desempenho no ensino secundário.

A primeira infância tem muita importância na formação de capacidades, ao criar o ambiente correto para o desenvolvimento físico e psicológico, resume Heckman. Para o economista, essas capacidades trazem maiores ganhos se lapidadas até os quatro primeiros anos de vida. Ele se refere tanto às habilidades cognitivas convencionais aprendidas na escola  como conseguir enxergar o mundo de forma mais abstrata e lógica  quanto às habilidades não cognitivas, relacionadas ao autocontrole, à motivação e ao comportamento social. As últimas também devem ser estimuladas no começo da vida. Embora sejam cientificamente menosprezadas por muitos, elas estão diretamente relacionadas ao sucesso na escola  e, mais tarde  no mercado de trabalho, afirma.

Os estímulos, porém, precisam ocorrer na escola e na família. Daí, segundo Heckman, o sucesso do programa Perry, que envolve os pais no processo educativo. Sem o amparo dos pais, dificilmente uma criança terá motivação para aprender, afirma. É por essa razão que uma criança do Nordeste começa a vida em desvantagem em relação a uma do Sudeste, sublinha o economista. A tarefa de programas pré-escolares é tentar atenuar as diferenças no ponto de partida. A intervenção motiva as crianças e faz com que elas se engajem mais, procurem o conhecimento, estejam abertas à experiência e ao aprendizado. Assim vão aprender melhor nos anos seguintes, explica.

Mundos distintos

Em outro estudo, feito com o brasileiro Flávio Cunha, Heckman compara dois mundos familiares bem distintos. No primeiro, as crianças vêm de um lar cujos pais leem em voz alta, dão estímulos lógicos e usam um vocabulário amplo. No outro, os pais são analfabetos e não há brinquedos em casa. O estudo constatou que, com um ano de idade, as diferenças são muito pequenas entre as crianças. Aos quatro anos, porém, as disparidades de resultados são significativas.

A taxa de retorno no capital humano, segundo os pesquisadores que estudam o tema, equivale ao conceito do retorno do investimento numa ação na bolsa. Heckman afirma que a taxa de retorno de um programa pré-escolar nos EUA é de 6% a 10% ao ano. As ações na Bolsa têm taxa de retorno média entre 5% e 8%. O programa tem uma taxa de retorno muito boa, com a vantagem de ainda combater as disparidades econômicas, afirma o economista.

fonte: http://educacao.ig.com.br/us/2009/12/16/brasil+deve+mirar+educacao+na+pre+escola+diz+ganhador+de+nobel+de+economia+9238939.html